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O que estou ouvindo

Posted by Rubens

 

Sandrine Piau - Reflet (2024)

O recital da soprano francesa focado no repertório francófono que exalta a luminosidade é um dos mais aclamados do início do ano e é marcado por belíssimos momentos de canto.

Ruby Hughes - End of My Days (2024)

Outro recital aclamado pela crítica, em temática lembra o álbum da Hélène Grimaud que recentemente adquiri. Trata-se de uma reflexão sobre a vida e morte, que celebra a vida sem se esquecer de abraçar a finitude da existência. O álbum por essa razão aborda uma longa gama de sentimentos

Theotime Langlois de Swarte - Antonio Vivaldi Concerti per una vita (2024)

Trata-se de um longo tributo a Vivaldi e compositores contemporâneos a ele, nesse álbum Theotime Langlois junto com o conjunto barroco, Le Consort, entregam diversos concertos compostos pelo compositor de veneza sempre com uma técnica bastante apurada.

Elina Garanca - When Night Falls... (2024)

Um álbum dedicado a noite e a hora de dormir lindamente cantado por Garanca, uma de minhas cantoras favoritas de sempre, espero que seja aclamado pela crítica como merece.

Angela Gheorghiu - A Te Puccini (2024)

Posted by Rubens

 

"A convicção dramática de Gheorghiu e o rico tom florescente pelo qual sua voz é conhecida ainda estão abundantemente presentes, permitindo-lhe oferecer uma performance significativa e profundamente expressiva deste agradável conjunto de músicas" (Resenha da BBC Music Magazine de fevereiro de 2024 que deu 4/5 ao álbum)

"O tom pode ser instável e as notas climáticas podem sair do controle, mas o carisma de Gheorghiu aos 58 anos é palpável em sua voz e em seu estilo pucciniano longamente cultivado, especialmente em seus belamente moldados finais suaves" (Resenha da Gramophone Magazine na edição de março)


Review

Em 2024 estamos comemorando o centenário da morte de Puccini, um dos compositores italianos mais famosos e importantes para a ópera, nesse sentido não é supresa que o compositor esteja sendo homenageado esse ano por uma de suas principais devotas, a soprano romena, Angela Gheorghiu, que tem como grandes sucessos na sua carreira personagens de Puccini como Mimí (La Bohéme), Floria Tosca (Tosca), Magda (La Rondine) e Cio-Cio-San (Madama Butterfly), sendo essas últimas duas interpretações premiadas pela revista Gramophone.

Porém, esse álbum não é dedicado as árias de óperas de Puccini as quais Gheorghiu já dedicou diversos recitais, mas sim as composições para voz e piano que ele compôs dos 16 a 61 anos, uma dessas faixas inclusive é inédita e está tendo sua primeira gravação comercial nesse CD.

Nas notas de encarte Gheorghiu deixa bem claro que o álbum trata-se de um homenagem amorosa ao compositor italiano ao qual ela grata por toda a vida, o título do álbum é tanto para indicar um tributo a Puccini ("to you puccini") quanto uma referência a primeira composição para voz e piano que se chama "A Te", interpretada aqui com muita ternura pela soprano.

A voz de Angela Gheorhiu sempre foi um instrumento perfeito para Puccini, trata-se de uma voz recheada de lirismo, mas com o peso necessário para as passagens mais dramáticas, o enunciado italiano perfeito e a arte do teatro.

Nessa álbum não é diferente, ainda que a soprano romena aos 58 anos não esteja mais no auge da sua carreira quando encantava o mundo esse repertório é perfeito para ela, pois a permite nos encantar com a beleza de sua voz e com interpretações bastantes sinceras das canções de Puccini, da para ver que foi tudo feito com muito esmero e carinho.

De todo modo, é fato que o registro agudo está comprometido, o que a impede de elevar ainda mais a qualidade do registro, o que não quer dizer que não há momentos de brilho na sua técnica vocal, entre eles a recém descoberta "Melanconia" que é ricamente interpretada pela Gheorghiu tanto a nível de atuação teatral quanto vocal, que alegria que a primeira vez que essa canção é registrada em CD seja pela voz da Angela Gheorghiu, uma das sopranos mais devotas de Puccini.

Esse álbum está cheio de momentos de belo canto e melodias, a exemplo "Casa Mia casa mia" canção curtíssima dedicada a uma casa que Puccini teve que vender uma de suas casas, o recitativo "Salve Regina", sem dúvidas um dos destaques do álbum.

Não sendo um dos melhores álbuns de Angela Gheorghiu, esse recital pode ser entendido como um lindo tributo a um dos mais importantes compositores da Itália por uma das vozes mais belas que já o cantou. Angela Gheorghiu durante mais de 3 décadas nos encantou com sua voz floral e mais uma vez, nesse repertório quase não explorado, entregou uma de suas mais singelas prestações.





Nova aquisição - Hélène Grimaud - Chopin & Rachmaninov (2005)

Posted by Rubens

 

Hélène Grimaud - Chopin & Rachmaninov (2005)

"Os lançamentos de Hélène Grimaud para a Deutsche Grammophon tem sido construídos sempre em torno de um conceito. Aqui, é a morte e a transcendência. Os interessados em filosofia podem encontrar a explicação de Grimaud nas notas do encarte, enquanto os mais musicais de nós podem simplesmente ouvir um repertório padrão renovado por uma das pianistas jovens mais destacadas da atualidade.

Na sonata de Chopin, o primeiro movimento de Grimaud é volátil e o delicado colorido final proporcionam o tom e a resolução exigidos tanto pelo compositor quanto por sua própria perspectiva filosófica. No entanto, está última, significa uma Marcha Fúnebre sem lágrimas, desprovida de qualquer traço de sentimentalismo, mas sem falta de poder, mais um luto contemplativo do que a coisa em si.

A sonata de Rachmaninov é a revisão de 1931 com a restauração de trechos do original de 1913 por Grimaud. Assim como em Chopin, O lindo tom de Grimaud e a clareza da sua articulação ajudam a tornar esta uma performance excepcional. O programa se encerra com um par das obras mais comoventes de Chopin, a Berceuse e a Barcarolle, ambas lindamente executadas."

(Review de Dan Davis para o site da Amazon traduzido para o português)


Review de David Huruwitz (traduzido em parte para o português)

Hélène Grimaud é uma artista formidavelmente talentosa com ideias interpretativas fortes, às vezes obstinadas. Em sua nota intepretativa para esse disco, que é melhor lida enquanto se está bêbado ou sob a influência de alguma substância alucinógena, ela fala sobre a morte e outras coisas, mas qualquer que seja sua motivação ela toca ambas as obras com um olhar voltado para sua escuridão e melancolia sombria. Alguns ouvintes podem sentir que essa abordagem se adequa melhor à sonata de Rachmaninov do que às peças de Chopin, e de fato Grimaud tem a tendência de transformar Chopin em "Chopmaninov", oferecendo a interpretação mais incomum da Segunda Sonata desde Pletnev.

Grande parte do peso extraordinário que Grimaud traz para essas obras amplamente conhecidas vem da rara atenção que ela dá a mão esquerda. O tema principal do Allegro luta (adequadamente, ao meu ver) contra seu acompanhamento agitado, e o scherzo decola com uma articulação feita a marretadas e uma linha de baixo esculpida na pedra. Você pode muito bem achar os extremos de tempo em ambos os movimentos (sempre que algo lírico aparece) um pouco demais, mas a marcha fúnebre é verdadeiramente angustiante e implacável, como deve ser. Também achei fascinante a abordagem de Grimaud para o final. Ao invés do usual "rush" de notas uniformes, ela encontra todos os tipos de padrões, sugestões e trechos de melodia que estavam flutuando na superfície da música. É muito perturbador e coroa um interpretação individual e extrema que vai fazer com que você reflita. As duas obras mais curtas, a lindamente melancólica Berceuse e uma Barcarolle  que fluí rapidamente e é curiosamente ousada, provam ser igualmente desafiadoras.

Grimaud gravou uma sensacional Segunda Sonata de Rachmaninov em sua versão mais curta, quando ela tinha apenas 15 anos. Essa gravação está atualmente na Brilliant Classics e ainda soa fantástica. Esta versão é principalmente a revisão de 1931, mas com grande parte do original de 1913 restaurado, tornando-a um híbrido que soa mais como a última, com texturas mais enxutas enxertadas na estrutura maior de 1913. A interpretação de Grimaud, então, é incomumente pessoal, não apenas em seus detalhes, mas também em sua visão da obra como um todo, e é muito poderorsa, assim como a de Chopin bastante nervosa e muito dramática. Certamente ela alcança os clímax nos movimentos externos e oferece um central "lento" cuja liberdade rapsódica de fraseado nunca compromete a essência fundamental melódica da música. Ela captura a ambivalência emocional e mercurial do final tão bem quanto qualquer um já fez.

The sonics, a touch hard in fortissimo, capture Grimaud’s wide dynamic range well, though I really could do without the Glenn Gould-like vocalizing. I don’t know why record producers don’t tell the artists to keep quiet in front of the microphones, so I will: Hélène, darling, you’re too good a pianist and too lousy a singer to ask your fans to put up with both. Stick to tickling the ivories. Music making this individual won’t appeal to everyone, but I can only applaud Grimaud’s thoughtfulness, risk-taking, and obvious command of both the keyboard and the musical text.

 

Fontes

Site da Amazon sobre o álbum: https://www.amazon.com/Sonata-No-2-H%C3%A9l%C3%A8ne-Grimaud/dp/B00061H2UE

Review da Classics Today.com por David Huruwitz: https://www.classicstoday.com/review/review-11384/?search=1

Review da BBC Music Magazine: https://www.classical-music.com/miscellaneous/chopinrachmaninov-0

Nova aquisição: Itzahk Perlman e Vladimir Ashkenazy: Beethoven - The Violin Sonatas (1973-1977)

Posted by Rubens

 

Itzahk Perlman/Valdimir Ashkenazy - Beethoven: The Violin Sonatas

"Existem duas sonatas de violino realmente famosas de Beethoven, a Kreutzer e a Spring. A sonata Kreutzer inspirou uma história de Leon Tolstói, que por sua voz se transformou em tema para o primeiro quarteto de cordas de Janácek, então se você gosta de estudos comparativos nas artes, temos aqui uma tópico de tese para você!

A Sonata Spring foi trilha de sonora do filme do Woody Allen, Love And Death (1975), e em outros lugares. E talvez o mais intrigante disso tudo, o scherzo da última sonata, a sonata para violino no. 10 Op.96, aparece claramente no terceiro movimento da segunda sinfonia de Mahler. Então, você deve saber mais sobre essa música esplêndida do que você pode imaginar. Porque, então, não dar um mergulho nessas soberbas performances e conhecer as sonatas em primeira mão?

Assim como existem duas sonatas de Mozart que são verdadeiramente famosas, há também dois lados na carreira musical do violinista, Itzhak Perlman, o virtuoso chamativo e o parceiro atencioso. Gravações de música de câmara apresentam Perlman nesse segundo papel, que recebe menos atenção do que sua outra, mais sensacional persona, mas que para que muitos ouvintes é ainda mais musicalmente recompensador.

Ashkenazy, não é um mero acompanhante, estando bastante envolvido com os procedimentos de gravação, e os dois musicos combinam para produzir um dos mais refinados sets de gravação das sonatas de violino disponíveis no mercado, assim como uma das melhores gravações de Perlman em qualquer gênero.

(Review de David Hurwitz da ClassicsToday.com traduzido para o português)

"Perlman e Ashkenazy realizaram diversas colaborações registradas em discos juntos, mas seu registro das 10 sonatas para violino de Beethoven podem ser rankeadas como uma de suas melhores colaborações. A profundidade da parceria artística é clara, você sofrerá para encontrar um conjunto melhor que esse em qualquer década."

(Artigo de Chris O'Reily da Presto sobre os 25 melhores discos da década de 70 traduzido para o português)

Fontes

https://www.prestomusic.com/classical/articles/1397--favourites-the-1970s-25-great-recordings

https://www.amazon.com/Beethoven-Violin-Sonatas-Ludwig-van/dp/B0000041UF

Diana Damrau - Operette: Wien – Berlin – Paris (2024)

Posted by Rubens

 

"A sempre inteligente artista, Diana Damrau, sabe como suavizar sua voz para criar aquela distintiva voz de soprano exigida pela operetta, um tom leve e brilhante, de coloratura ágil, fluída e narrativa que é condição sine qua non de um bom estilo de chanson. Kaufmann, na verdade, participa de apenas três faixas, mas é extraordinário" (Resenha da BBC Music Magazine de fevereiro de 2024)

"A clareza natural e a doçura da voz de soprano de Diana Damrau é um grande trunfo nessa gravação. Os resultados tocam o coração além de deleitar o paladar. Ainda é cedo, mas me pergunto se já encontrei meu disco favorito do ano?" (Resenha da Gramophone de janeiro de 2024)

"Para mim, a operetta é o gênero mais abrangente do teatro musical. Sua indulgência, seu anseio, sua alegria e sua comédia tocam o coração e mostram o lado positivo da vida. Raramente deixa de exercer sua magia sobre o público" (Diana Damrau sobre operettas)


Review

Diana Damrau é conhecida por seu Mozart, Salieri, Strauss e por sua excelência no belcanto italiano, de modo que um álbum inteiramente dedicado a árias de operettas surge como uma novidade em sua já laureada discografia. E não se trata de quaisquer árias, a soprano alemã confessou que durante o período de pandemia de covid se reaproximou de Elke Kottmair, uma profunda conhecedora do gênero de operettas, e que teve papel primordial na escolha do repertório, que foge da obviedade dos grandes sucessos da operetta como discutiremos mais a frente. 

Desde a infância a cantora confessa ser apaixonada pelas operettas, esse gênero do final do século XIX em que elementos de comédia e dança tem grande destaque, sendo conhecida pela sua acessibilidade junto ao público, muito por conta das melodias cativante e humorísticas. Damrau ouvia operettas em rádios e programas populares, o apelido de sua mãe, Rosalinde, é em homenagem a personagem de Die Fledermaus.

Esse é um álbum focado na alegria, tanto a da interprete quanto a que ela pretende transmitir para o ouvinte. Damrau, montou seu repertório para prestigiar não apenas a operetta vienense, mas também para incluir operettas de Paris e Berlim. Para a cantora na operetta berlinense há muito mais recitação e elementos de "chanson", ao passo que a operetta parisiense é onde o gênero se originou pelas mãos de Jacques Offenbach.

Para fins de divisão podemos considerar:

Viena: Robert Stolz, Franz Lehár, Erich Wolfgang Korngold, Johan Strauss I, Emmerich Kálmán, Ralph Benatzky, Carl Millöcker, Oscar Straus, Richard Heuberger, Johan Stauss II,

Berlim: Paul Lincke, Paul Abraham

Paris: Francis Lopez, Henri Christiné, André Messager

É uma viagem por mais de sete décadas de história das operettas com a participação de alguns "cameos" estrelados que apenas complementam os deslumbrantes vocais e a sagacidade humorística de Diana Damrau.

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O disco abre em grande estilo com a ária "Du sollst der Kaiser meiner Seele sein" (de Der Favorit) de Robert Stolz, uma das minhas favoritas do álbum, em que a Diana Damrau dá o tom alegre que irá nos acompanhar por toda esse recital, é simplesmente lindo.

Logo depois saltamos direto para a operetta berlinense de Paul Lincke, o pai da operetta de Berlim, com a ária de sua conhecida ópera, Frau Luna, uma belíssima valsa, seguida também por outra valsa de Franz Lehár "Wär es auch nichts als ein Traum vom Glück" da operetta Eva, momentos onde Damrau mostra seu toque delicado, ao mesmo tempo que demonstra facilidade em manter a melodia flutuando nos momentos de ápice da orquestra.

Os elementos de jazz podem ser percebidos em "Flirt-Duett. "Ein kleiner Flirt" de Das Lied der Liebe composta por Korngold, que marca a primeira aparição de Jonas Kaufmann no álbum em dueto estrelado e é incrível constatar como a voz de bronze de Kaufmann complementa perfeitamente a leveza lírica trazida por Damrau.

Mais jazz vem na mais que interessante "In meinen weißen Armen" (de Ball Im Savoy) de Paul Abraham conhecido pela sua habilidade de introduzir interlúdios de jazz nas operettas, para além de elementos de dança latinos como tango e pasodoble, que lhe renderam uma perseguição brutal dos nazistas que consideravam sua arte como degenerada pelo fusionismo desses elementos. A seleção dessa ária para compor o programa demonstra o bom gosto e a sensibilidade de Diana Damrau, aumentando o valor desse recital.

Os outros dois duetos com Jonas Kaufmann em composições de Ralph Benatzky e Robert Stolz, "Im weißen Rößl: "Mein Liebeslied muss ein Walzer sein" e Richard Heuberger, "Gehen wir ins Chambre séparée" (da operetta: Der Opernball) são pontos altos do álbum, o último inclusive mostra uma química romântica entre os dois interpretes, simplesmente deliciosa.

Outros destaque, ao meu ver, são as árias seguintes de Franz Lehár, foi muito inteligente da parte de Diana Damrau na escolha do repertório com Elke Kottmair abordar esse "lado b" do compositor, o que só evidencia o seu talento melódico.

Falando em Elke Kottmair, ela faz uma pequena aparição no disco em conjunto com a mezzosoprano, Emily Sierra, em "Wo die wilde Rose erblüht" (de Das Spitzentuch der Königin) de Johan Strauss II, um belo ensemble de vocais femininos.

A seleção também é muito feliz ao nos apresentar as operettas francesas, tão pouco faladas, eu particularmente gosto da alegria e delicadeza que ela empresta a ária "Rossignol" de André Messager, uma prova da habilidade e clareza dos vocais de Diana Damrau, que fecha com um maravilhoso sobre agudo. Esse talento se repete na "Ça fait tourner la tête", ária composta por Francis Lopez que traz um tempero espanhol para a tradicional valsa, Presto Music brinca no seu review que o drink de escolha dessa canção é uma sangria no lugar do habitual champagne.

Diana Damrau chegou num ponto da carreira em que retém todas as habilidades de uma soprano lírico ligeiro que atravessa facilmente qualquer desafio de agilidade que as árias possam impor, quanto pela sua madureza, também é capaz de escurecer e apertar a voz para momentos de maior expressividade dramática, em suma um instrumento perfeito para Operettas.

Esse registro merece todos os elogios, pois além de mostrar Diana Damrau no auge de suas capacidades vocais, é uma seleção que apresenta muito mais que o trivial em matéria de operetta, sendo focado em uma pesquisa cuidadosa de obras pouco conhecidas que são interpretadas aqui em altíssimo nível pelos vocais de Diana Damrau.

Nesse ponto da carreira, sendo uma das sopranos mais celebradas de sua geração, Diana Damrau poderia se acomodar com repertório arroz de festa de operettas, mas pela sua ousadia, brilho vocal, trabalho de pesquisa e importância histórica, para além da perfeita escolha de colaboradores, esse trabalho merece toda exaltação.

Como explícito na ária que fecha o disco, "Ich bin eine Frau, die weiß, was sie will" de Oscar Straus, Diana Damrau assim como a protagonista da ópera sabe muito o que quer e isso fica evidente ao ouvir o disco por completo.

 

Bibliografia

Resenha de Richard Bratby para a revista Gramophone: https://www.gramophone.co.uk/reviews/review?slug=diana-damrau-operette-wien-berlin-paris

Indicação do álbum no Editors Choice de Janeiro de 2024 pela revista Gramophone: https://www.gramophone.co.uk/features/article/editor-s-choice-january-2024-the-best-new-classical-recordings

Reportagem da Presto Music por Katherine Cooper: https://www.prestomusic.com/classical/articles/5673--recording-of-the-week-operette-from-diana-damrau

Dados da Presto Music: https://www.prestomusic.com/classical/products/9544155--operette

Review da Financial Times: https://www.ft.com/content/178d2f74-7a0d-477c-b514-9b956b38f792

Entrevistas e declarações de Diana Damrau: https://diana-damrau.com/en/2024/02/08/music-matters-interview/  e  https://diana-damrau.com/en/2023/12/20/arte-drei-fragen-an-diana-damrau/  e  https://diana-damrau.com/en/2023/12/18/wien-berlin-paris-operettenzauber-mit-diana-damrau/  e  https://diana-damrau.com/en/2023/12/14/diana-damrau-in-der-operette-gibt-es-ein-anderes-bild-von-der-frau/

 

Apreciação artistica

Posted by Rubens


O gosto pela chamada "alta cultura" foi ao longo da história cultivado por uma burguesia que queria se fazer importante frente a seus pares, assistir óperas e teatros, admirar obras de arte e ler belos livros era uma forma de ganhar signos de prestígio. Para esse grupo também era importante adquirir algum conhecimento sobre a obra afim de ter material para futuras conversas nos famosos saraus da Belle Époque.

No nosso século com a difusão da internet e a explosão dos pocket books o acesso a esse tipo de arte se tornou bastante simples. Hoje você pode ler quase todas as peças teatrais do Shakespeare pagando 67 R$ ou se gostar de ler pela internet nem precisa pagar nada, o mesmo vale para a música erudita. Hoje o grande público desse tipo de arte é advindo da classe média, que assim como os burgueses é ávida por arrotar que leu as grandes obras do passado e coisas do tipo.

O grande erro desse público é a busca pela erudição, eles leem uma obra buscando seu sentido e entender suas nuances para depois tecer comentários "inteligentes" para impressionar sua plateia. A busca pelo sentido tem sido o maior erro de todos aqueles que decidiram mergulhar no mundo da arte, e isso é facilmente percebido quando eles se deparam com uma arte que não faz sentido ou é apenas uma arte de contemplação.

A arte não foi feita para ser entendida e sim sentida, a sensação é o principio central da arte, o seu verdadeiro apreciador consome a arte buscando sensações novas, o esteta que é a maneira que irei usar para chamar o verdadeiro apreciador da arte, é como um violino e o artista é um virtuose que extrai do seu violino todo o tipo de sons.


Percebeu a crítica social dessa obra? O que? Mas como assim ela não tem crítica e nem nenhum conteúdo mais profundo?

A música eletrônica é um bom exemplo disso que eu estou falando, ela em si não tem um sentido definido, sequer tem letra, tudo que podemos fazer e aprecia-la e é assim que devíamos ser em relação a arte. A busca pelo sentido das obras de arte destrói a experiência artística e enviesa tudo, graças a essa vicissitude muitos não conseguem descobrir o mundo da poesia que nem sempre possui sentidos delimitados.

Poetas como Rimbaud e Cruz e Sousa não estavam muito interessados em demonstrar ideias ou fazer crítica social, ainda que possuam algo desse tipo nas suas obras, mas sim fazer uma arte contemplativa que explorasse ao máximo o poder da imagética e rompesse com a materialidade das coisas o que por vezes torna a poesias desses autores sem sentido e obras de pura contemplação.

*A arte é sensação
*A arte não necessita possuir um sentido para existir
*O verdadeiro esteta é aquele que aprecia a arte e não aquele que busca uma erudição através dela, a erudição é mera consequência de sua admiração.

Tendo essas ideias em mente fiquem com uma poesia de Cruz e Sousa

Sinfonias do Ocaso

Musselinosas como brumas diurnas
Descem do acaso as sombras harmoniosas,
Sombras veladas e musselinosas
Para as profundas solidões noturnas

Sacrários virgens, sacrossantas urnas
Os céus resplendem de sidéreas rosas,
de lua e das Estrelas majestosas
Iluminando a escuridão das furnas

Ah! por estes sinfônicos ocasos
A terra exala aromas de aúreos vasos,
Incensos de turíbulos divinos.

Os plenilúnios mórbidos vaporam...
E como no azul plangem e choram
Cítaras, harpas, bandolins, violinos...

É dificil ouvir ópera?

Posted by Rubens

 
 

Muitas pessoas sequer tentam começar a ouvir ópera, porque são desmotivados pelo pensamento de que é muito difícil ouvi-la. Esse texto visa destruir essa ideia e apresentar meios de tomar contato com o gênero da melhor maneira possível.

Mitos

Inicialmente se faz necessário destruir uma série de preconceitos que foram criados a respeito desse gênero musical para que se possa aprecia-lo com a mente mais aberta.

* A ópera não é um estilo elitista, a música não está associado necessariamente a classes sociais, hoje em dia o grosso do público de ópera pertence a classe média assim como vários estilos, mesmo os periféricos. No passado a ópera era assistida por todas as classes, existe até uma história clássica de um dono de fabrica de tecidos que tomou contato com a Norma de Maria Callas através do bate papo de suas funcionárias.

* Não é preciso ser inteligente para ouvir ópera, é preciso sim ter a mente aberta e paciência, mas isso ocorre com todo estilo musical que foge dos estilos radiofônicos modernos ( exemplos: soul, heavy metal, rap, folk, rock alternativo e a ópera...)

* Ópera não é coisa de mulheres obesas, muito pelo contrário, a ópera é um meio gordofóbico. É celebre o caso da demissão de Deborah Voigt por excesso de peso e as loucas dietas de Maria Callas para se adequar.

* A ópera é multi-temática, logo aquela ideia da "mulher obesa vestida de viking gritando" é apenas um preconceito bobo, derivado de uma visão superficial da ópera wagneriana que buscava trazer elementos da mitologia alemã para ópera visando assim reforçar a identidade cultural da Alemanha.

* Ópera não é complexa, na verdade é o estilo mais acessível e fácil de se ouvir dentro da música erudita, a grande barreira para muitos é a dificuldade de acostumar-se ao canto lírico e a duração das óperas. Iremos discutir esse tópico no texto, mas acho válido desde já deixar aqui uma observação acerca do ouvinte de ópera do site Euterpe:

"O Operário: Em teoria, o exato oposto. O que lhe interessa são as vozes, belíssimas vozes, e os dramas, os terríveis dramas sofridos por aquelas senhoras e senhores no palco. Verdi é seu herói, mas a partir daí há vários subgêneros, aquele com um gosto mais abrangente aprende a gostar de Mozart, Wagner, Janácek, entre outros. Mas um bom número se restringe ao repertório romântico italiano, Donizetti, Bellini, Puccini. A melodia é rainha, o drama o rei, e o resto é apenas conseqüência. Uma boa ópera é aquela que tem melodias memoráveis.

Prós: a ópera é provavelmente o gênero mais importante da história da música, então estar em contato com esse gênero é sempre uma vantagem. Além disso, o interesse em técnica de canto produz análises e comentários muito úteis sobre o canto, o instrumento por excelência.
 
Contras: É sem dúvida o ouvinte que tem menos interesse em música, e uma característica estrutural e outra histórica contribuem para que a sensibilidade musical seja reduzida. A muleta dramática do libretto muitas vezes serve, tanto ao compositor quanto ao público, para não dar tanta atenção no efeito da música, o que produz tanto uma música de pior qualidade (evidentemente isso não vale para os grandes gênios do gênero) quanto um menor interesse em música – em outras palavras, o libretto serve no lugar de música. O outro fator é o virtuosismo vocal que em muitos repertórios constitui no verdadeiro fim musical. Isso isola seu ouvinte dos outros da maneira mais radical em toda a música clássica. Tem a tendência de viajar pelo mundo em busca das grandes casas de ópera em Nova York, Viena, Berlim, Milão, Paris, como um Jet-setter cultural."
 
As dificuldades
 
Os iniciantes sofrem bastante por não saber por onde começar e não entender o básico sobre ópera como: classificação de vozes, conceitos de árias, dueto e ensemble, atos, libreto, coloratura... Para o último caso, basta esclarecer as dúvidas:
 
Classificação das vozes
 
Tenor: Voz masculina aguda
Barítono: Voz masculina entre o grave e o agudo
Baixo: Voz masculina grave
Contratenor: Voz masculina que simula a voz de uma soprano ou mezzosoprano
Soprano: Voz feminina aguda
Mezzosoprano: Voz feminina entre o grave e o agudo
Contralto: Voz feminina grave
 
Subclassificação das vozes
 
Ligeiro ou Leggero: Registro que tende ao alcance de notas mais agudas e preza mais a agilidade. Registro de voz típico de cantoras que apresentam coloratura.
 
Dramático: Vozes poderosas, capazes de se destacar mesmo quando competem com a forte presença da orquestra. Cantores com esse registro de voz possuem bastante folêgo e resistência.
 
Spinto: São vozes melódicas e mais escuras, cantores com esse tipo de voz conseguem interpretar bem personagens que exigem uma boa carga dramática.
 
Lírico: Registros de vozes agradáveis de se ouvir, cristalinas. É difícil de definir o que é lírico, mas é fácil de reconhecer.
 
Outros conceitos
 
Ária: Parte da ópera onde um personagem tem um solo.
Dueto: Quando dois personagens participam de uma ária
Ensemble: Vários personagens participam de uma ária
Atos: Partes que dividem momentos de uma ópera
Libreto: Texto da ópera, geralmente é baseado em obras de literatura (Werther, La Traviata, Fausto)
Coloratura: Exibição de virtuosismo por parte de um cantor, associado a óperas de bel canto.
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Agora vamos para o mais difícil que é saber por onde começar, eu lhes apresento dois caminhos: o de começar a ouvir óperas completas ou ouvir CDs de árias. Apresentarei as vantagens e desvantagens de cada meio e depois abordarei a maneira de melhor fazer uso desses métodos:
 
Ópera Completas
 
+ Acesso ao libreto das óperas
+ Conhecimento histórico acerca das gravações
+ Se você ver em DVD vai ser como ver um filme.
+ Melhor entendimento de como funciona o estilo
- Ópera tem duração de um filme, o que pode a tornar cansativa para ouvintes de primeira viagem
- Descobrir que escolheu a ópera errada no meio dela
 
Cds de árias
 
+ Maior maleabilidade, visto que você pode começar de qualquer ordem e as árias não são muito longas.
+ Não é obrigado a ver até o fim para apreciar (mas é recomendado que você faça isso pelo menos uma vez)
+ Ideal para quem já tem uma cantora predileta ou quer conhecer melhor um cantor especifico
+ Variedade, em um mesmo CD você pode ouvir um pouco de Puccini, Mozart, Verdi...
- Não tem acesso a libreto
- Dificuldade de contextualizar a ária dentro da ópera
- Não trás conhecimento histórico sobre a atuação de uma cantora em determinada ópera, pois não é porque ela foi bem em algumas árias que ela irá bem dentro de uma ópera inteira
 
 
Ópera completa
 
Esse na minha opinião é o caminho mais árduo, mas é também o que trás mais recompensas ao fim da audição de uma ópera. Todo o verdadeiro melômano (fã de ópera) deve ouvir óperas inteiras e conhecer pelo menos umas 2 ou 3 gravações clássicas. O verdadeiro desafio aqui é a escolha, por isso recomendo que você leia um pouco sobre cada ópera antes de escolher, se quiser pode ouvir umas árias antes sem muito compromisso.
 
Se você não sabe aonde ler sobre as óperas, eu recomendo que você compre o: Guia Ilustrado Zahar da Ópera, mas enquanto você não o tem, eu indico algumas que eu considero bem adequadas para os principiantes
 
Mozart: Cosí Fan Tutte, Le Nozze Di Fígaro, Don Giovanni, Die Zauberflöte
Rossini: Il Barbiere Di Siviglia, La Cenerentola
Bellini: Il Puritani
Donizetti: L'Elisir D'Amore, Lucia Di Lammermoor
Verdi: Rigolleto, La Traviata, Il Trovatore, Ainda
Puccini: Manon Lescaut, Tosca, La Bohéme, Madama Butterfly, Turandot
Wagner: Ouvir a Tetralogia do anel
Bizet: Carmen
Massenet: Manon
 
Escolhida a ópera a dúvida fica por qual das várias gravações ouvir, eu recomendo que você escute as consagradas pela crítica internacional. O terceiro desafio é ouvir pacientemente e atentamente a ópera, já que a tendência é que você não volte a ouvir aquela ópera completa muitas vezes na vida.
A dica para prender sua atenção na ópera e acompanhar o Libreto da ópera disponível na internet.
 
Muitos não conseguem fazer isso e para esses eu recomendo que eles ao invés de baixarem gravações, assistam óperas gravadas em DVD, existem muitas delas boas, claro que não dá para viver só de DVD, mas é bom para esse começo.
 
 
CD de árias
 
Eu quando comecei a ouvir ópera já tinha uma cantora em mente, Maria Callas, o que facilitaria a escolha do CD que eu iria baixar, mas por sorte eu descobri que meu pai já tinha cds dela, então foi bem tranquilo. Você pode escolher o CD tanto devido a uma cantora quanto a um compositor. Futuramente eu apresentarei mais detalhes sobre indicações, mas por hora fiquem com essas:
 
Anna Netrebko: Russian Album
Jonas Kaufmann: Wagner Album
Montserrat Caballé: A Portrait, Greatest Hits
Maria Callas: Arie Celebri Vol.1
Diana Damrau: Mozart Album
 
O legal de ouvir árias isoladas em CD é que você pode faze uma primeira audição sem prestar muita atenção, audição que serve apenas para sensibilizar os ouvidos para uma futura audição, essa sim proveitosa e atenta.